sexta-feira, 23 de abril de 2010

Sobre acelerar e dizer que não é a estrada que anda.

E a gente sempre olha a estrada passar da janela do carro, porque no fundo sempre parece que é ela que está indo embora e não nós. É meio que uma forma de tirar das nossas costas o peso de ser quem toma a iniciativa de partir e deixar pra trás todo o caminho que já foi andado, porque normalmente você é julgado por isso. Acontece que quem toma essa decisão não é covarde como as pessoas dizem. Prosseguir um caminho só quer dizer que você ainda não chegou exatamente onde queria chegar, então, isso consiste em deixar algumas coisas pra traz, por mais que muitas vezes você quisesse que ficar fosse o melhor. Seguir em frente é ter coragem, porque você não sabe o que tem adiante, vai viajar pra um lugar desconhecido, e mesmo assim vai. Vai, e ainda pode sentir as pedras em suas costas, por isso você tem coragem. Porque vai.

E no meio desse trajeto a estrada pode estar molhada, pode vir uma nuvem de neblina pra tapar sua visão, o carro pode quebrar, o combustível acabar, mas o que realmente importa é que a partir do momento em que você olhar pra frente, colocar as mãos no volante e pisar no acelerador… Bom, desse momento em diante, só o que importa é que de um jeito ou de outro você sempre encontre uma maneira de seguir em frente, por mais que a lataria do carro não saia perfeita, ou que o seu interior não esteja cem por cento, o que importa é não olhar pra trás, porque a estrada nunca tem um fim, ela continua. Quem para é você.

O mais engraçado disso tudo é que vão ter aquelas horas em que você vai querer voltar, vai sentir falta da certeza que era o caminho que você já seguiu, vai querer fazer tudo de novo mesmo sabendo onde vai dar, vai sentir saudade, mesmo sabendo que nunca vai poder ser. Você vai sentir que nunca é totalmente certo, vai ter dias de arrependimento, principalmente quando o vidro do carro estiver embaçado, quando a estrada estiver esburacada, vai ter vontade de abrir a porta e esperar que por algum milagre- se é que eles existem – alguma coisa passe por cima de ti. Mas há dias e dias, e ao mesmo tempo em que por algum momento você vai desejar profundamente voltar alguns quilômetros e mudar tudo o que fez, vai ter sempre um dia que só o que você quer é acelerar. Então pisa! Por mais imprudente que seja, pisa e fecha os olhos, faz parecer que não é você quem está saindo do lugar… Mas sai.

Um dia a gente volta. A gente sempre volta. Eu sempre volto, mesmo que seja pra dar uma passada bem rápida, mesmo que seja um aceno de longe, a gente volta e reconhece cada curva da estrada, a gente sente falta. O que não significa que a gente vai ficar. Um dia a gente volta conformado com nossas escolhas de seguir em frente, porque pra seguir em frente a gente tem que ter coragem, depois disso, têm até dias que da pra fechar os olhos e pisar no acelerador, da pra sentir o vento. Pra ficar, muitas vezes, por incrível que pareça a gente precisa de sangue frio, precisa aprender a conviver com o fato de nunca saber como a estrada pode ser melhor do outro lado por medo de admitir que na verdade, nunca é a estrada que deixa a gente. No fundo, no fundo, sempre somos nós que deixamos a estrada.

eu já disse que volto.

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